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São Paulo após às 18h

Sentada no ônibus, eram 19h. Liguei a música e comecei a desorganizar as ideias. A semana estava apenas começando e há dois meses eu não voltava para a minha casa, em Araçatuba. É fácil não gostar de São Paulo após às 18h. O trânsito, o cheiro, o trânsito, a sujeira, o trânsito, o cinza. O vaivém da multidão esperando a vez de embarcar. O fone de ouvido na orelha das pessoas. A abstração. O meu fone de ouvido. O silêncio do caminho e o barulho do motor são irritantes. Além deles, só os burburinhos dos jornais dobrados, as páginas de revistas velhas de celebridades sendo viradas e os livros gritando as letras por meio das lâmpadas velhas do Armênia 719P Encostei a cabeça na janela e quis lembrar de um momento muito bom. Algo fora, além. 16 anos talvez. Eu ainda tinha o cabelo comprido, bem comprido. Preto. Saíra um anúncio no jornal dizendo que haveria um show do Peninha na cidade. Últimos lugares, corram. O local da apresentação seria em um restaurante chamado Kabana. Na época, um sucesso. Ambiente aberto, quatro espaços - dois externos, dois internos. Consegui os ingressos, fomos eu, pai e mãe. Não lembro porquê, minhas irmãs não foram. Como compramos na última hora, só nos sobraram lugares lá no fundo, mas de frente para o palco. Estava frio em Araçatuba. Eu vestia uma blusa de gola branca. Sem maquiagem, só um batom vermelho. Sentamos os três, era uma alegria só. Não lembro quando isso aconteceu de novo - ir a um show apenas com meus pais. Eles pediram chopp, eu já iniciava o meu hábito de tomar água com gás. Lugar lotado e nós três estávamos bem, muito bem. Música ambiente e Peninha não demorou a entrar. Ele cantou "Sozinho", "Matemática" e se estendeu por mais 1h30 naquela sexta-feira. Ele também estava sereno e vestia uma blusa branca. Sorria e cantava. A nossa mesa estava longe e já quase ao final do show, ele nos olhou, apontou com o dedo e deu um longo aceno. Cutuquei o meu pai - olha, é aqui! Eu retornei o tchau e minha mãe sorriu satisfeita. Não me lembro que horas saímos do show. Era cedo ou tarde, não sei. Reproduzi a história do aceno umas cinco vezes. A bateria do meu ipod acabara e o relógio da Av. Paulista marcava 20h. Em ponto. Ajeitei o cabelo amassado, evitei colocar a mão nos olhos e desci.

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