Para a minha avó
Supermercados não são um bom lugar para chorar e, talvez eles nunca se tornem um ambiente apropriado para isso. Ultimamente, no entanto, eles me fazem ter vontade de soltar as lágrimas e deixá-las por lá.
Esses dias li uma entrevista com o Hebert Vianna em que ele dizia que a tristeza nos deixa mais sensíveis. Percebi que o Natal provoca o mesmo efeito. Ele nos faz mais sensíveis e às vezes até mais frágeis.
Já tem um ano que a minha avó faleceu, e o tempo parece não diminuir em nada a falta que ela faz aqui. Essa época do ano a traz tão presente que dá vontade de ligar para ela, só para ver se atende.
Natal era a minha avó. A época que ela mais gostava.
Ela adorava ir ao supermercado com minha mãe e irmãs para fazer a compra da ceia para depois passar a tarde toda preparando uma quantidade de comida muito maior do que todos nós poderíamos consumir.
E todo capricho era tão bom. A toalha, a mesa com as castanhas, a voz e a sua alegria.
Ir ao supermercado nesta época do ano é ver minha avó ali do lado, pegando o panetone e a caixa de uva-passas. É vê-la toda apressada para não esquecermos de nada, nenhum ingrediente da farofa, nem o abacaxi para comermos com o peru.
Supermercados não são feitos para chorar. Mas eles tem mexido tanto comigo, que quase me esqueço que ali, é apenas um espaço para se comprar.
Nesta época, mais do que qualquer outra, eu a quero aqui pertinho de mim para levar o carrinho pelos corredores comigo. Mas ela não vai.
De qualquer forma, quando eu penso que o mercado no Natal não tem o mesmo brilho sem ela, também me dou conta de que sou uma pessoa de muita sorte. Muita mesmo. Porque um dia, e por muitos dias, eu fui com ela até lá. E tive a felicidade de estar ao lado das suas compras e do seu amor.
E se tudo isso que fica tão à mostra no Natal, e me traz lembranças tão carinhosas da minha avó só pode ser muito bom.
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